28 setembro 2010

engraçado conta-gotas:

cultivando a esperança
evitando a expectativa


24 setembro 2010

ever

Bato na porta
É a volta


Os olhos percorrendo
Essa casa de esquina


Vazia


Onde há tanto espaço

Em cada quarto


Que ali muitas vezes


Me perdi

Ali

Existe um de mim

Menino


Com olhos baixos

Olhando o chão

De uma paixão


Criança


Uma menina de tranças


Que roubou um beijo
De um garoto sem jeito

Há ali


Um de mim

Atirando pedras


Em um outro Eu

Culpado


Amarrado ao passado


Há um

Esperando a beira de si


Com o coração na mão

Por não saber a direção


Há um rezando

Em segredo


Enquanto outro lhe aponta o dedo

Rindo


Há um de mim sofrido

E outro louco


Um bicho solto

Caça


Uma criança


Que fugiu de um morto

Com meu rosto


Outro de mim

Com o rim exposto


Sangra


E em seu sangue

Um de mim


Sem cor


Planta uma flor na terra

Vermelha


E um de mim cego
Sob um telhado de céu

Canta com o chapéu à frente

Esperando uma moeda


Enquanto um outro

Serra a cela


Um Eu espera Ela


Na janela


E um outro com saudade

Curvando as costas

Vem me receber à porta









13 setembro 2010

02.03.10

Através da cortina laranja do ônibus o sol pintava as páginas do livro intensamente. As árvores causavam sombras intermitentes. Branco e laranja, branco quase preto e laranja piscando psicodélicos no livro às 8 da manhã. O ar condicionado nas dobras dos antebraços. O friso do sol luminoso na lente do óculos. Lilás ali fora, na lágrima da árvore em flor. O passageiro estar. Acomodo-me incômoda no movimento estofado, ar enfadonho de mofo e fumaça. Faço o favor de não quebrar o vidro. Resto a caminho. Tenho o efeito da luz nas mãos, a tela litúrgica, e posso escapar para dentro. Dentro do verde lá fora.. descalça sobre o nada desejo flutuar vazia de memória, como o raio sonolento e unânime em toda a cúpula do presente, em sua imobilidade mágica atravessando tudo. Beijo o lago e sou. multiplico. apenas o piscar é fatal. Mas nesse estado sonante sou zumbido de fôlego solar, esqueço a língua na boca mareada silente. Tenho um arco-íris nos cabelos, e movo-me.

08 setembro 2010

asa

o anjo na vela,

ou a borboleta no parapeito






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07 setembro 2010

::

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b






"quando ele era ele"

"onde os bravos não têm vez"


Bárbara

há sempre alguma coisa ausente que nos atormenta (Camille Claudel para Rodin)

{













}

n

Então nós vamos duvidar e vamos nos olhar e sentir o coração disparado, mas vamos pensar que não pode ser, e temer, e querer fugir, pois já sabemos que um dia isso vai murchar e será triste não se reconhecer. Então vamos querer telefonar mas vacilar para não dar mole, e machucar silenciosamente, e mascarar o afeto sem as palavras certas. Vamos pensar que cada um está querendo ficar só, e que não somos tão legais quanto todas as outras pessoas, e nem tão bonitos quanto todos os outros, e calar, e pingar sozinho. Nunca vamos nos declarar, vamos nos admirar em segredo, e pensar muitas vezes antes de dizer ou escrever e se arrepender de ter feito, e sentir culpa por revelar-se. Vamos preferir imaginar que o outro é um cretino e o vestir de ordinário na mente para facilitar a fuga. Vamos sempre duvidar, duvidar. E comparar. E concluir que não vale a pena entregar-se para não sofrer; evitar. E vamos tentar achar em outras pessoas alguma coisa que na verdade éramos nós. Então antes mesmo de permitirmos, vamos nos afastar sem despedida, e chorar sozinhos, aliviados por escapar mais uma vez, rasgados, covardes, indefesos de si próprios.