22 junho 2010

20 junho 2010

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enquanto me escondo namultidão, a espinha espia.






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18 junho 2010

...
e então pegamos nossas lágrimas e as colocamos no congelador...
depois as retiramos...

e tlim tlim tlim

...


(Marta dizia colocando as pedras de gelo no copo de wisky)



"Quem tem medo de Virgínia Woolf"
Edward Albee

{...}


16 junho 2010

página 55

A geléia viva

Este sonho foi de uma assombração triste. Havia uma geléia que estava viva. Quais eram os sentimentos da geléia? o silêncio. Viva e silenciosa, a geléia arrastava-se com dificuldade pela mesa, descendo, subindo, vagarosa, sem se derramar. Quem pegava nela? Ninguém tinha coragem. Quando olhei-a, nela vi espelhado meu próprio rosto mexendo-se lento na sua vida. Minha deformação essencial. Deformada sem me derramar. Também eu apenas viva. Lançada no horror, quis fugir da geléia, fui ao terraço, pronta a me lançar daquele último andar da Rua Marquês de Abrantes. Era noite fechada, e isso eu via do terraço, e eu estava tão perdida de medo que o fim se aproximava, tudo o que é forte demais parece estar perto de um fim. Mas antes de saltar, eu resolvia pintar os lábios. Pareceu-me que o batom estava curiosamente mole. Percebi então: o batom era também de geléia viva. E ali estava eu no terraço escuro com a boca úmida da coisa viva. Quando já estava com as pernas para fora do balcão, e pronta para me deixar cair, foi que vi os olhos do escuro. Não “olhos no escuro”. Mas os olhos do escuro. O escuro me espiava com dois olhos grandes, separados. A escuridão, pois, também era viva. Aonde encontraria eu a morte? A morte era geléia viva. Vivo estava tudo. Tudo é vivo, primário, lento, interessado, tudo é primariamente imortal.
Com uma dificuldade quase insuperável, consegui acordar-me a mim mesma, como se eu me puxasse pelos cabelos pra sair do atolado vivo. Abri os olhos. O quarto estava escuro, mas era um escuro reconhecível, não o profundo escuro do qual eu me arrancara. Sinto-me mais tranqüila. Tudo fora um sonho. Mas percebi que um dos meus braços estava para fora do lençol. Com um sobressalto, recolhi-o: nada meu deveria estar exposto, se é que eu ainda queria me salvar. Eu ainda queria me salvar? Acho que sim: pois acendi a luz. E vi o quarto de contornos firmes. Havíamos endurecido a geléia viva em paredes, havíamos endurecido a geléia viva em teto; havíamos matado tudo o que se podia matar, tentado restaurar a paz da morte em torno de nós, fugindo ao que era pior que a morte: a vida pura, a geléia viva. Fechei a luz. De repente um galo cantou. Num edifício de apartamentos, um galo? Um galo rouco. No edifício caiado de branco, um galo vivo. Por fora a casa limpa, e por dentro o grito? assim falava o Livro. Por fora a morte conseguida, limpa, definitiva – mas por dentro a geléia viva. Disso eu soube, no primário da noite.


Clarice Lispector

14 junho 2010



só agora eu estou lendo os livros que lias a 10 anos atrás.
eu sei, não te acompanho.

quando estala o assoalho, uma barbarie interrompe;
de roupão o urso esconde o rabo
agazalhado, gargalho do umbigo.
orgulha-se de ter sempre escondido
o louco, a louça
espeta.
arrompe o passo.

houve.


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11 junho 2010

em sinto a memória


El nuevo soneto a Helena

Cuando estés vieja, niña (Ronsard ya te lo dijo),
te acordarás de aquellos versos que yo decía.
Tendrás los senos tristes de amamantar tus hijos,
los últimos retoños de tu vida vacía.

Yo estaré tan lejano que tus manos de cera
ararán el recuerdo de mis ruinas desnudas,
comprenderás que puede nevar en Primavera
y que en la Primavera las nieves son más crudas.

Yo estaré tan lejano que el amor y la pena
que antes vacié en tu vida como una ánfora plena
estarán condenados a morir en mis manos...

Y será tarde porque se fue mi adolescencia,
tarde porque las flores una vez dan esencia
y porque aunque me llames yo estaré tan lejano.


Pablo Neruda



montevideo

Alinhar ao centro


07 junho 2010

sempre estamos sós



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enquanto o café ficava pronto
despedaçei todas as rosas
em cima da cama



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